a Vida

Quando eu nasci, lá no Rio de Janeiro, em 1988, fui cuidado por uma mulher muito especial. To falando de uma certa morena linda, casada com um mulato e herdeira de uma fortuna que mais tarde foi roubada por sua irmã. Ela gostava de casa cheia que nem eu. Amava reunir os amigos, os parentes, as pessoas queridas pra comer bastante, pra rir e nosso Pai... como ela era sincera nessas reuniões! Ela falava tudo que tinha vontade. Essa mulher era Neuza Vieira Cavalcante, mãe do pai. A melhor avó paterna que eu poderia ter. Fez umas coisas muito importantes por mim: curou meu umbigo, me levou tantas vezes na escola, me ensinou a gostar de Chicabom, me ensinou a gostar de Fanta Uva, me ensinava (do jeito dela) a importância de amar a Deus, ria de qualquer besteira que eu falasse. Ela era maravilhosa, simplesmente. Todas as lembranças que tenho dela, são dela sendo carinhosa comigo. Quando eu tinha medo, ela cantava: "Boi, boi, boi.. boi da cara preta, pega esse minino que tem medo de careta!" 


Como eu chorei agora aqui escrevendo esse trecho!!


Há algum tempo, ela piorou da diabetes que sempre teve, começou a perder parte da visão, começou a ter dificuldades pra andar por causa de um tombo que sofreu e os dias dela já não tinham mais tanto movimento e tanta cor. Ela falava sempre em mim, perguntava às pessoas... Eu fui vê-la em 2007. Foi tão bom! Era como se ela soubesse que era a última vez! E eu, sempre tão ocupado com congressos na igreja, com ensaios, compromissos com ministérios que participo ou participei, nunca voltei ao Rio pra ver essa grande mulher. A separação dos meus pais em 1993, as brigas e as complexas questões familiares, dificultaram (e muito) minha presença perto deles. Ela já não estava feliz por não andar como sempre gostou e por não enxergar quase nada. Mas eu queria vê-la, ainda mais UMA vez e pedi isso a Deus. 


Soube ontem que ela havia sido internada desidratada e com infecção urinária grave. Em apenas 1 dia, vovó foi colocada em coma induzido e teve infecção generalizada, como eu há 2 anos atrás. Quando soube da notícia da internação, comecei a me preparar para ir até lá, mas achei melhor fazer primeiro a prova que tinha hoje cedo na faculdade. E não deu tempo. Acabo de saber que minha vovó morreu hoje as 6:30. Eu choro aqui, pela mesma razão que nós todos choramos: a perda. Os milagres não são pra todos e não acontecem todas as vezes. No entanto, diante disso, mesmo não tendo conseguido ver minha avó antes que ela partisse, mesmo sendo 12:00 e considerando que ainda que eu saísse daqui agora, não chegaria a tempo do sepultamento, eu louvo a Deus pela vida daquela mulher que me pegou no colo e que fazia com que eu me sentisse tão amado, como poucas vezes na vida. Mesmo com todo esse remorso por não ter largado tudo pra vê-la enquanto era cedo, eu celebro a vida dela nesse momento, sem a qual a minha vida não existiria. Obrigado Deus!